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nº 7| 10 de agosto de 2020
VILLA COLETIVA
Cultura, História e Acessibilidade
Ao futuro, em sinal de estima e consideração: fotografias e interpretações na Coleção Francisco Rodrigues, 1840-1920
Rita de Cássia Barbosa de Araújo
No rico acervo memorial da Fundação Joaquim Nabuco, dentre os diversos e relevantes documentos históricos e peças museológicas, uma coleção sobressai: a Francisco Rodrigues, formada por cerca de 17 mil fotografias de indivíduos e grupos retratados entre 1840 e 1920. A variedade de seus objetos fotográficos e a multiplicidade de informações contidas no verso e no anverso das peças permitem conhecer a história da fotografia — desde os tempos do daguerreótipo aos populares carte de visite, cabinet size e cartões-postais —, como também oferecem uma mostra do amplo e dinâmico circuito social da fotografia existente no Brasil e no mundo, entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX.
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Autor não identificado Pernambuco, ca. 1860 Ambrótipo
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Julio dos Santos Pereira
Pernambuco, 1874
Carte de visite
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Menna da Costa e Cª
Recife, Pernambuco
Carte de visite
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Cintra & Cia
Pernambuco
Carte de visite
A Francisco Rodrigues abarca o período de decadência da sociedade patriarcal e escravocrata, sobretudo da aristocracia açucareira nordestina, e de ascensão de uma economia capitalista de base urbano-industrial. Reúne retratos de senhores e senhoras de engenho, negras e negros escravizados e alforriados; bem como de usineiros, grandes comerciantes de importação e exportação, políticos, militares, funcionários públicos, pequenos comerciantes, artistas, religiosos, profissionais liberais, professores e estudantes.
Nesse conjunto, a diversidade da sociedade brasileira, com forte acento regional e evidentes traços de miscigenação, encontra rosto e expressão: são centenas de retratos de homens, mulheres, velhos, jovens e crianças, brancos, negros e mestiços. As comoventes imagens que a compõem insinuam dramas e tramas do viver em sociedade: relações sociais de classe, raça e gênero, práticas sociais e representações, vida privada familiar e ritos de passagem, sociabilidades urbanas, modas, valores culturais e padrões comportamentais, expressões de afeto e sentimentos. De tudo isso os retratos falam um pouco.
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Alberto Henschel & Cia
Antônio Gomes Leal, Brigadeiro, Guerra do Paraguai
Recife, Pernambuco
Carte de visite
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Alberto Henschel & Cª
Mulheres não identificadas
Recife, Pernambuco
Carte de visite
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Alberto Henschel & Cia.
Augusto de Souza Leão (Barão de Caiará) e Idalina Carlota de Souza Leão (Baronesa de Caiará). Engenho Capibaribe, São Lourenço da Mata, Pernambuco
Recife, Pernambuco
Carte de visite
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Alberto Henschel
Criança com ama de leite
Pernambuco
Carte de visite
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Acadêmia
Malaquias Gonçalves Castelo Branco, filho de Estevão Gonçalves Castelo Branco
Rio de Janeiro, 1910
Cabinet
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Alberto Henschel
Eduardo de Gusmão Coelho e “seu grande amor, Elvira”, mais outro homem não identificado
Recife, Pernambuco, 1885
Cabinet - Albumina
A Coleção foi iniciada nos anos 1920, no Recife, por Augusto Rodrigues, cirurgião-dentista e sócio do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano. Em 1937, o sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre escreveu artigo de jornal no qual exaltava o paciente trabalho do colecionador e reconhecia o valor documental das fotografias como fontes de pesquisa sociológica, histórica e antropológica sobre a vida social no Brasil — postura inovadora entre historiadores e cientistas sociais à época.
Com a morte do patriarca em 1938, o primogênito Francisco Rodrigues deu continuidade à coleção. Ele temia que as fotografias se dispersassem e fossem relegadas ao esquecimento pelas novas gerações, para quem o passado agrário não mais representava um ideal de vida ou uma memória a cultivar. Nesse período, as elites intelectuais e políticas do país começaram a desenvolver uma noção mais clara sobre patrimônio histórico e artístico e sua importância para a cultura brasileira e para a construção de uma identidade nacional. Determinados monumentos, objetos de arte e documentos representativos do passado histórico brasileiro passaram a ser valorizados por particulares e pelo Estado brasileiro, que criou o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Sphan, em 1937.
Em 1956, o Governo do Estado de Pernambuco interessou-se por adquirir a coleção, mas o projeto malogrou. No ano de 1960, o conjunto foi comprado pelo Instituto do Açúcar e do Álcool para o acervo do seu recém-criado Museu do Açúcar. Contava, então, com 12.750 peças. O Museu tinha por objetivo promover aspectos das características culturais da formação das áreas açucareiras no Brasil e no mundo, notadamente no Nordeste brasileiro.
Os retratos da Coleção Francisco Rodrigues vinham ao encontro deste propósito, reforçando uma memória construída sobre a região, exaltada como berço da “civilização do açúcar” e área onde primeiro se havia consolidado o sistema colonial na América Portuguesa. Em 1977, o acervo e o patrimônio do Museu do Açúcar foram transferidos para o então Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, hoje, Fundação Joaquim Nabuco. Atualmente, a Coleção encontra-se preservada e acessível ao público na Coordenação Geral de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade - Cehibra.
Em ensaio dedicado à Coleção, publicado no livro O retrato brasileiro: fotografias da coleção Francisco Rodrigues, 1840-1920, em 1983, Gilberto Freyre lançou o conceito de “sociofotografia”, em que reafirmava o valor da fotografia como documento de fundamental importância para a interpretação de aspectos da vida social brasileira. Dentre as sociofotografias existentes na Coleção, destacava os retratos em que as mães-pretas ou amas de leite apareciam ao lado de seus sinhozinhos ou sinhazinhas. Um desses retratos, o da ama de leite Mônica com o sinhozinho Arthur Gomes Leal, tornou-se símbolo da formação histórica e social brasileira.
Para alguns estudiosos, imagens como esta constituem prova documental da existência de uma convivência afetiva e harmoniosa estabelecida entre senhores e escravizados no passado patriarcal escravocrata brasileiro, tese exemplarmente defendida por Gilberto Freyre. Para outros especialistas, principalmente historiadores e antropólogos contemporâneos, a referida fotografia constitui um símbolo da sociedade brasileira exatamente por seu poder de evocar as relações sociais, raciais, de gênero e de poder que se formaram desde os remotos tempos do sistema colonial e que expõem uns dos traços mais marcantes e desconcertantes da formação histórica do país: a violência estrutural e a extrema desigualdade econômica, social e racial que marcam a sociedade brasileira em todos os tempos. Repetindo a frase cunhada por Luiz Felipe de Alencastro: “Quase todo o Brasil cabe nessa foto.”
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F. Villela
Artur Gomes Leal com a ama de leite Mônica
Recife, Pernambuco
Carte de visite
Fotografias da Coleção Francisco Rodrigues
PARA SABER MAIS
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. História da vida privada no Brasil. Império: a corte e a modernidade nacional. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1997.
ARAÚJO, Rita de Cássia Barbosa de; MOTTA, Teresa Alexandrina (orgs). O retrato e o tempo: Coleção Francisco Rodrigues, 1820-1920. Recife: Editora Massangana, 2014.
FREYRE, Gilberto; PONCE DE LEON, Fernando; VASQUEZ, Pedro (orgs). O retrato brasileiro: fotografias da Coleção Francisco Rodrigues, 1840-1920. Rio de Janeiro: Funarte, Núcleo de Fotografia; Fundaj, Departamento de Iconografia, 1983.
MAUAD, Ana Maria. Imagem e auto-imagem no Império. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe de. História da vida privada no Brasil Império: a corte e a modernidade nacional. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1997. v. 2. p. 181-231.
MEDEIROS, Ruth de Miranda (org.). Arquivos & coleções fotográficas da Fundação Joaquim Nabuco. Recife: Fundaj, Editora Massangana, 1995.
A AUTORA
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Rita de Cássia Barbosa de Araújo é doutora em História Social pela Universidade de São Paulo e pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco.
COMO CITAR ESSE TEXTO
ARAÚJO, Rita de Cássia B. de. Ao futuro, em sinal de estima e consideração:fotografias e interpretações na Coleção Francisco Rodrigues, 1840-1920. (Artigo). In: Coletiva - Villa Digital. Publicado em 10 ago. 2020. Disponível em https://www.coletiva.org/villa-coletiva-francisco-rodrigues. ISSN 2179-1287.
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