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PIBIC-Ensino Médio da Fundaj transforma vidas e educa para o futuro

O PIBIC-EM tem sete bolsas para a Fundaj, no valor de R$300 para cada estudante

Bolsistas PIBIC-EM da edição 2023-2024. Da esquerda para a direita: Luiz, Pedro, Maria Luiza, Eduarda, Nycolle, Joana e Rodrigo. Foto: multiHlab/Acervo

Por Maria Carolina Santos


Quando a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) abriu os cursos de pós-graduação em educação, os professores – pesquisadores da casa – nunca haviam dado aulas para adolescentes. “Então como é que a gente ia conversar com o professor, ensinar professor, se a gente nunca havia estado na escola?”, lembra a pesquisadora Viviane Toraci, da Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes) da Fundaj e coordenadora do PIBIC-Ensino Médio.


Foi com o objetivo inicial de cobrir essa lacuna que em 2017 a Fundaj aderiu ao PIBIC-EM — em uma parceria entre o PIBIC, que era coordenado pela pesquisadora Darcilene Gomes, e o Mestrado Profissional em Ciências Sociais para o Ensino Médio (MPCS), então coordenado pelo pesquisador Alexandre Zarias.


É uma experiência que há quase oito anos vem transformando pesquisadores e alunos. “É um estímulo ao pensamento crítico e à curiosidade, o que é fundamental para formar cidadãos preparados para os desafios que as sociedades irão enfrentar. O bolsista tem a oportunidade de ampliar sua compreensão e visão de mundo, respeitando a diversidade e o conhecimento em bases científicas”, afirma Darcilene Gomes, uma das orientadoras do PIBIC-EM desde a primeira edição.


Como o PIBIC-EM atua com jovens em uma fase importante da vida, a escolha de um rumo profissional, é um apoio também para essa decisão, já que muitas vezes é o primeiro contato dos estudantes com os métodos científicos. Para a publicitária Yasmim Raíssa, o PIBIC-EM foi decisivo. “Eu estava na dúvida se cursaria  publicidade. Minha primeira opção de curso era educação física, mas a experiência da minha orientadora, Viviane Toraci, me fez escolher essa profissão”, conta Yasmim.


Hoje estudante de cinema na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marjorie Louise participou da segunda edição do PIBIC-EM em 2018. Naquele ano, um ano de eleições presidenciais, os bolsistas escolheram falar sobre juventude e política. “Eu tinha 15 na época, e foi uma experiência que realmente deu uma mudada na minha cabeça. Mudou no sentido profissional também, porque na época eu queria Direito”, conta Marjorie.


Naquele ano, os bolsistas fizeram um documentário sobre a ocupação na sua própria escola, que aconteceu anos antes, em 2016. A Escola de Referência em Ensino Médio Cândido Duarte, parceira do PIBIC-EM da Fundaj, foi a primeira a ser ocupada e a última a retornar às aulas em uma onda de ocupações secundaristas que ocorreu naquele ano em protesto contra as mudanças no Ensino Médio.


Na iniciação científica, Marjorie atuou na edição do documentário sobre a ocupação. “Eu já editava vídeos antes, apenas por diversão. Mas acabei pegando um gosto extra no PIBIC-EM porque foi a primeira vez que eu editei algo realmente sério, entrevistei pessoas junto com meus colegas e vi que a carreira de audiovisual era algo que me interessava muito”, afirma Marjorie, que hoje é bolsista no multiHlab – Laboratório Multiusuários em Humanidades da Fundaj.



Viviane Toraci explica que a cada ano os grupos de bolsistas se reúnem com os orientadores e orientadoras para escolher um tema único, que vai ser trabalhado ao longo dos meses. É um trabalho de troca e de escuta, que ajuda a empoderar os estudantes.


“No depoimento que colhemos com os professores, eles dizem que os alunos eram muito tímidos dentro da escola e que quando um bolsista vem trabalhar com a gente, ele volta para a escola se colocando mais em sala de aula, se sentindo mais confiante para falar. Outro retorno que recebemos dos professores é de que os trabalhos feitos em grupos com bolsistas têm uma pegada científica mais forte. Os bolsistas induzem os grupos a pesquisar e se aprofundar mais nos assuntos”, ressalta Toraci.


Há também ganhos para os pesquisadores da Fundaj. Para Darcilene Gomes, uma das características mais relevantes do PIBIC-EM é permitir o contato direto com os estudantes da escola pública. “A interação entre alunos e pesquisadores provenientes de diversos contextos socioeconômicos, culturais e familiares torna mais rica nossa experiência de pesquisa e promove um ambiente de aprendizado estimulante para eles”, afirma ela.


“Além disso, o contato com os gestores das escolas públicas é fundamental para estabelecermos parcerias sólidas e construtivas. Ao trabalharmos em conjunto, compartilhamos recursos, conhecimentos e boas práticas, impactando a qualidade da educação oferecida no segmento público”, avalia Darcilene.


O PIBIC-EM tem sete bolsas para a Fundaj, no valor de R$300 para cada estudante. Na edição mais recente, mais de 40 estudantes participaram da seleção.


Em busca de um modelo


O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) não estabelece um resultado final para os bolsistas do PIBIC-EM. Para chegar a um modelo que funcionasse – e que fosse possível de ser replicado não só em outros anos, mas também em outras instituições –, a Fundaj fez estudos desde a primeira edição, vendo o que funcionava e o que não funcionava para os alunos e orientadores.


A escolha definitiva da escola, por exemplo, se deu após experiências em algumas unidades do município de Camaragibe e do bairro do Espinheiro, na Zona Norte do Recife. Havia dificuldades dos estudantes frequentarem os campi da Fundaj e cada bolsista ficava com um orientador diferente.


No ano seguinte, em 2018, a Escola de Referência em Ensino Médio Cândido Duarte entrou como parceira da Fundaj, já que fica quase em frente ao campus de Apipucos. Assim, os estudantes frequentam as instalações da instituição todas as tardes de quartas-feiras, em uma horário na escola em que é reservado para atividades de estudo. “Os estudantes circulam e usufruem dos espaços da Fundaj. Apresentamos a biblioteca, a Villa Digital, apresentamos também o Museu do Homem do Nordeste, em Casa Forte. Eles realmente sentem que a casa é deles também”,  comenta Viviane.


Bolsistas na sala do multiHlab no Campus Apipucos da Fundaj. Foto: multiHlab/acervo

Para Darcilene, abrir as portas da Fundaj aos jovens estudantes de escola pública é uma maneira eficaz de promover a inclusão e reduzir as desigualdades sociais. “Ao proporcionar experiências práticas e enriquecedoras, podemos contribuir significativamente para a formação integral dos estudantes, preparando-os para enfrentar os desafios da vida em sociedade”, acredita.


No início chamado de Caravana da Sociologia, o modelo do PIBIC-EM da Fundaj evolui até o atual Sociolab. Um aprimoramento importante foi feito na orientação, que ficou coletiva, compartilhada e centrada em um único tema, que é trabalhado por todos os bolsistas.


O pesquisador da Dipes /Fundaj Allan Monteiro recorda que no primeiro ano ele e o pesquisador Pedro Silveira compartilharam a orientação dos bolsistas da escola em Camaragibe. “Nesse primeiro ano, a experiência de unir os alunos em um só projeto deu muito certo. Quando chegamos na Cândido Duarte, esse desenho do nosso PIBIC-EM já estava consolidado: orientadores e bolsistas trabalhando em equipe. E, dentro deste modelo, proporcionando aos estudantes uma experiência de pesquisa, qualitativa e quantitativa, tendo como objeto de pesquisa a comunidade escolar”, explica. 


Junto aos orientadores, os bolsistas desenvolvem e aplicam um questionário, formam um banco de dados e analisam esses dados. “Depois, fazemos a fase qualitativa, que pode ser um grupo focal, pode ser entrevistas. Explicamos sobre esses métodos, sobre  todos os estágios de uma pesquisa, e discutimos com os alunos quais caminhos seguir”, diz Allan.

A pesquisa, então, entra em uma etapa muito importante, que é a da divulgação científica, realizada em parceria com o multiHlab. Além de documentário, os bolsistas já fizeram banners, podcasts, sites e vídeos. “É uma parte essencial do nosso trabalho de pesquisa e uma forma de devolver para a escola o conhecimento adquirido pelos bolsistas. Com a divulgação científica, ampliamos esse conhecimento para toda a base escolar”, destaca Viviane.

O modelo do PIBIC-EM da Fundaj tem dado tão certo que virou até tema de mais de uma dissertação de mestrado do Profsocio, o Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional, em um ciclo que se retroalimenta com muita pesquisa e dedicação.


A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação da revista Coletiva e da autoria do texto.



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