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Fuga de cérebros: os brasileiros qualificados que deixam o País e as estratégias para atraí-los de volta

Pesquisa liderada pelo demógrafo Wilson Fusco, diretor da Dipes/Fundaj, investigará as causas da emigração qualificada de brasileiros para a Europa


Por Maria Carolina Santos


O demógrafo Wilson Fusco, diretor da Dipes. Foto: MCS/Coletiva

Quem são os brasileiros com ensino superior que emigram para o exterior e como reter esses talentos no Brasil? Projeto de pesquisa aprovado pelo CNPq do demógrafo Wilson Fusco, diretor de Pesquisas Sociais (Dipes) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), vai investigar as causas da emigração qualificada, contribuindo para a formulação de políticas públicas mais eficazes para a retenção e o retorno desses profissionais. 

“Queremos saber o que leva as pessoas que conseguiram fazer o ensino superior a sair do Brasil. E o que seria preciso para elas voltarem ao País”, explica o pesquisador.  Wilson Fusco observa que, em Portugal, muitos brasileiros com curso superior acabam ocupando cargos que não exigem a formação acadêmica que possuem. O projeto vai investigar se essa realidade se repete em outros países europeus, buscando entender as causas e as consequências desse problema. O estudo envolve pesquisadores da Universidade de Lisboa (Portugal), Université Lille 3 (França), University of Exeter (Inglaterra) e Università di Bologna (Itália), além de pesquisadores de diversas instituições nacionais (UFRN, Unicamp, UFABC, UPE, UFRR).

A pesquisa adota uma abordagem metodológica inovadora, integrando dados quantitativos e qualitativos. Na parte quantitativa, serão utilizados dados dos Censos brasileiros de 2010 e 2022 para analisar os fluxos de retorno e o perfil dos brasileiros que retornaram após um período fora do País. Dados dos censos de países europeus, permitirão também descrever e analisar informações sobre pessoas nascidas no Brasil e residentes na Europa. 

Para aprofundar a compreensão das motivações, desafios e projetos migratórios dos brasileiros, a parte qualitativa da pesquisa contará com entrevistas com emigrantes no exterior e com os que voltaram a viver no Brasil. A análise dos dados coletados, tanto quantitativos quanto qualitativos, será enriquecida pelo uso de inteligência artificial (IA), que possibilitará identificar padrões e insights importantes para os objetivos da pesquisa. 

O projeto, que tem início previsto para fevereiro de 2024, conseguiu na fase preliminar de aprovação no CNPq no edital do programa Conhecimento Brasil. A previsão é de que a pesquisa se estenda por 24 meses e, ao final, possa juntar informações que possam contribuir para a formulação de políticas públicas mais eficazes para a retenção e o retorno desses profissionais

 

Aplicativo e parceria com o IBGE 

Em uma parceria com o IBGE, o projeto vai desenvolver um aplicativo para coletar dados e mapear os emigrantes brasileiros, estimando quantos são, seus perfis, níveis de escolaridade, inserção no mercado de trabalho e localização geográfica. No aplicativo, a pesquisa se expande para abranger emigrantes em qualquer país estrangeiro. 

Há uma lacuna sobre quantos brasileiros moram fora do País. Isso porque o Censo 2022 não fez a pergunta se havia pessoas na residência que haviam se mudado para o exterior – pergunta que foi realizada no Censo de 2010. Hoje, quem oferece uma estimativa de emigrantes é o Ministério das Relações Exteriores com base nas consultas que recebem nos consulados ao redor do mundo. Mas é uma informação sem metodologia declarada, o que compromete a sua precisão.

“O IBGE está fazendo um trabalho, já há algum tempo, de pensar como fazer esse levantamento dos brasileiros no exterior. É uma informação bastante importante, que o Governo Federal quer saber”, afirma Fusco. O IBGE contribuirá com suporte técnico, definição de parâmetros e infraestrutura para o aplicativo. 

Um dos desafios dessa parte da pesquisa é gerar adesão e engajamento dos brasileiros que moram no exterior no uso do aplicativo. “Temos que estudar qual vai ser a atratividade para que esses emigrantes acessem o aplicativo. A nossa ideia é trabalhar em conjunto com as comunidades brasileiras no exterior, buscando sugestões de elementos que tornem o aplicativo mais atrativo e contribuam para uma maior adesão”, diz o pesquisador. 

Sobre o coordenador do projeto - Com vasta experiência em estudos de migração, o demógrafo Wilson Fusco pesquisa o tema desde a graduação, tendo iniciado sua trajetória com uma bolsa de iniciação científica em 1997. É formado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde também obteve os títulos de mestre em Sociologia e doutor em Demografia.  Sua pesquisa de mestrado aprofundou a análise das redes sociais – aqui, entendidas como amizades, conhecidos, familiares – como facilitadoras do processo migratório, com foco na cidade de Governador Valadares, em Minas Gerais. 

No doutorado, realizado com período sanduíche na Universidade do Texas em Austin (EUA), Fusco investigou a reciprocidade entre brasileiros nos Estados Unidos. Além disso, realizou pós-doutorados na Université Paris-Diderot e na Universidade de Lisboa, focando na migração de brasileiros para a Europa. Desde 2012, integra o Observatório das Migrações do Nordeste e, em 2024, passou a fazer parte do Observatório da Emigração Brasileira. Um dos principais estudiosos sobre migrações no Brasil, Fusco também orienta alunos de iniciação científica e pós-graduação na área de migrações internacionais na Fundaj e na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 


A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação da revista Coletiva e da autoria do texto.

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