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Paulo Freire se despedindo da Secretaria de Educação Municipal de SP. Reprodução da internet.  Edição: Túlio Velho Barreto

Política e

Cidadania

Editor temático: Túlio Velho Barreto

nº 19 | 17 de setembro de 2021

Paulo Freire, 100 anos: Uma história de vida em defesa da vida

Targelia de Souza Albuquerque

Túlio Velho Barreto

“O sonho de um mundo melhor nasce das entranhas de seu contrário” (Paulo Freire)

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (Paulo Freire)

“Eu gostaria de ser lembrado como um sujeito que amou profundamente o mundo e as pessoas, os bichos, as árvores, as águas, a vida” (Paulo Freire)

Iniciando o diálogo

 

O mês de setembro de 2021 marca o centenário do nosso patrono da Educação, o pernambucano Paulo Freire, nascido no dia 19 de setembro de 1921. A bela tessitura da Pedagogia Paulo Freire se consubstancia em um projeto de educação substantivamente democrática em uma sociedade digna, fraterna e justa que se concretiza como síntese de múltiplas relações sociais dentro e fora da escola. 

A assunção da Pedagogia Paulo Freire pela escola pode afirmá-la como um território social de relações dialógicas, de participação, protagonismo crítico, criatividade, de curiosidade epistemológica, do pensar certo, da pesquisa e problematização constantes, da alegria, generosidade e amizade. 

Uma escola de questionamentos, de perguntas sobre o que somos no mundo e em que mundo nós vivemos; quais as nossas opções éticas e de que currículo estamos falando  para que a ciência, tecnologia, política, ética e estética caminhem de mãos dadas em defesa da vida. Nessa escola, vida e liberdade são prioridades. O sujeito humano é de responsabilidade de todos e todas, não se permitindo jamais a opressão e a expropriação de sua vida e/ou de seus direitos de cidadania.

A Pedagogia Paulo Freire é co-laborativa; ela se funda na existência humana e se destina a sua emancipação. Nela não há lugar para a arrogância ou competição destrutiva. A simplicidade e a humildade, como atos de coragem, se integram às competências política, técnica, ética e estética, como já destacou Terezinha Rios em seu livro Ética e Competência. Se, de fato, for assumida por nós, com certeza trará mudanças não só locais, mas fortalecerá a participação a formação política de docentes e discentes, garantindo o direito à educação para a qualidade social como prática de liberdade.

A educação é um ato político e a política tem uma dimensão educativa: ambas são históricas e realizadas sob a responsabilidade de sujeitos éticos – seres de opção. O compromisso maior da pedagogia freireana é com a Ética Universal do Ser Humano, e, nos dizeres de Enrique Dussel, com a Ética da Libertação na Idade da Globalização e da Exclusão, como designa o título de um de seus livros sobre o tema.

 

Paulo Freire: Patrono da Educação Brasileira. 

 

Na primeira década do século XXI, Paulo Freire já tinha um vasto reconhecimento em mais de 150 países, através de inúmeras homenagens e honrarias públicas e privadas, a exemplo da Medalha Comenius (Genebra, Suíça, 1994) e do Prêmio “Educação Para a Paz” (UNESCO, Paris, 1986). Recebeu mais de 50 títulos de “Doutor Honoris Causa” pelas Universidades mais creditadas e valorizadas no mundo inteiro. Seu livro Pedagogia do Oprimido (originais no Chile em 1968, publicado nos Estados Unidos, em 1969, e no Brasil, em 1974), já foi traduzido em mais de 36 idiomas para 150 países, entre várias de suas obras. Isso faz dele um dos autores brasileiros mais lidos no mundo.

No Brasil, esse reconhecimento ainda era “tímido”. Porém, em 2012, a conjuntura política do Brasil, em favor da democracia social, (re)coloca a Educação como parte integrante desse projeto emancipatório de sociedade. Nesse contexto, o Congresso Nacional reconhece a dívida histórica com Paulo Freire e lhe outorga o título de Patrono da Educação Brasileira pela Lei 12.612, de 16 de abril de 2012. Esse marco histórico demonstra também o compromisso do país com milhões de trabalhadores e trabalhadoras que lutam pelo direito de serem respeitados como educadores e educadoras, dentro e fora da escola, e de construírem uma educação substantivamente democrática.

 

Vamos conhecer Paulo Freire? 

 

A “biobibliografia” de Paulo Freire é fascinante e educativa como demonstra Moacir Gadotti em sua obra sobre o educador. Vamos (re)memorar alguns passos desse caminho que se faz caminhando  para abrirmos novas trilhas, construirmos e consolidarmos uma educação pública popular substantivamente democrática.

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Paulo Freire com um ano de idade e em sua formatura Universitária em 1947. Reprodução da internet

Paulo Freire – um menino que aprendeu a ler o mundo

 

Paulo Freire nasceu em Recife, cidade litorânea do Estado de Pernambuco, na Região Nordeste do Brasil, no dia 19 de setembro de 1921. Ali residia na Estrada do Encanamento nº 724, no Bairro de Casa Amarela. 

O compositor Capiba (Lourenço Barbosa) no seu samba-canção “Recife, Cidade Lendária”, lançado em 1950 por Paulo Molin, apresenta um Recife com uma beleza típica. Cidade repleta de manguezais, frondosas mangueiras, jaqueiras, pitangueiras, de uma natureza verde que atravessa ruas e cerca antigos casarões nos quais lampiões e acendedores são inseparáveis da poesia do entardecer recifense ao se fazer noite. Recife de rios que se encontram para formar o mar com suas pontes e arquitetura de beleza sem igual; a  deliciosa brisa que vem do mar que acaricia cabelos e corpos apaixonados. Recife, a Veneza Brasileira!

Paulo Freire vai tornar visíveis as contradições da cidade que tanto ama, mas quer torná-la eticamente bela. Ele desvela a pobreza extrema, alojada nos mocambos, nas palafitas e nos casebres que se equilibravam nas encostas dos morros, correndo frequentes riscos de barreiras desabarem no período de chuvas. Seres desumanizados que, em sua maioria, vivem em espaços com esgoto a céu aberto, sofrendo provações. Sujeitos humanos invisibilizados pelo poder público e/ou explorados pelas elites, que carregam no corpo e na alma cicatrizes físicas e psicológicas por causa de tamanha opressão e expropriação de cidadania. É nessa linda “cidade lendária”, que Paulo Freire, jovem, com um pouco mais de 20 anos, opta por lutar pelos oprimidos/asarticulando cultura, educação e liberdade. Como Paulo Freire chegou a essa decisão ética? 

Ele nasceu em uma família de classe média; morava em uma casa confortável com um grande e belo quintal repleto de árvores frondosas, com boas condições de vida, graças também a ajuda financeira que a família recebia de seu padrinho o qual tinha um comércio sólido e bem sucedido no Rio de Janeiro. Seu pai, Joaquim Temístocles Freire (Tenente da Polícia militar) era um pai amoroso e, sempre que podia, lia histórias, tocava violão e cantava para ele na hora de dormir. Sua mãe, Edeltrudes Neves Freire, dona Trudinha, cuidava da casa e de toda a família. Paulo Freire aprendeu a ler o mundo antes da leitura das palavras com a ajuda de seus pais, especialmente, de sua mãe, desenhando palavras com gravetos, à sombra das belas Mangueiras do quintal. A observação de seu mundo de criança, a investigação do seu universo vocabular, o diálogo sobre a natureza e a alegria de aprender brincando foram as bases de seu processo de alfabetização. Com a leitura e a escrita das palavras, ele aprendeu o gosto pelo conhecimento e estudo, pela família e vida!  Paulo Freire aos quatro anos aprendeu a ler e aos seis, já sabia escrever, quando entrou na escola particular. 

Eunice de Vasconcelos foi sua jovem e inesquecível professora. Paulo Freire a considerava como a mais importante da sua vida, quem o ensinou a formar sentenças, a brincar com as palavras, a interpretar as situações, colocando-se nelas e as compreendendo. A professora Eunice, na visão de Freire, despertou a sua curiosidade epistemológica para as diferentes manifestações da Língua Portuguesa e suas origens culturais, e o fez dar importância ao diálogo da linguagem erudita com a popular. Essas memórias o acompanharam durante a vida e se expressaram em várias de suas obras.  

 

O menino que se descobre, descobre o mundo social e se faz homem ético.

 

A conjuntura política e econômica nacional e internacional em 1929 com a quebra da Bolsa de New York, a depressão mundial, a crise do Café, atingiram em profundidade o Brasil. O padrinho de Paulo Freire não podia mais colaborar com a família, e esta por questões de sobrevivência encontrou na cidade de Jaboatão dos Guararapes, a 18 km de Recife, a sua nova morada. Uma casa simples, pouco espaço para a família toda e muita dificuldade para sobreviver. Em Jaboatão, Paulo Freire vive uma segunda fase da sua vida. Ele sofre em e com sua família; vive a fome, a precariedade da habitação, as dificuldades financeiras que se acumulam e geram novas preocupações Aos treze anos enfrenta a dor da perda, o luto pela morte do pai Assim, acompanha a viuvez precoce da mãe que, sozinha, precisava sustentar quatro filhos com uma pensão baixíssima e lutava para inserir os filhos na escola, em especial Paulo Freire, que precisava entrar no Curso Secundário, iniciado  apenas aos 16 anos.

Porém, foi em Jaboatão que Paulo Freire entrou em contato consigo, com novas pessoas e com a cultura popular; se reconheceu no mundo e com o mundo. De menino se fez homem. Paulo Freire foi um menino de verdade. Jogou futebol, se sujou na terra molhada (antes, não admitia se sujar), fez amigos, aprendeu a conversar, a ouvir, a problematizar, a argumentar, a dialogar, deixar aflorar a sua sexualidade, namorar e ter determinação para alcançar seus objetivos. Ao observar as mulheres “lavadeiras da beira do rio” descobriu a beleza do corpo feminino, mas as enxergou também como trabalhadoras em luta por sobrevivência e aprendeu a respeitá-las como sujeitos humanos. Foi “em Jaboatão que aprendeu a tomar para si, com paixão, os estudos, das sintaxes popular e erudita da Língua Portuguesa”, como nos conta em um de seus livros. 

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 Pedagogia do Oprimido em suas primeiras edições no exterior e no Brasil. Reproduções da internet.

Escolarização Secundária, universitária e formação profissional.

 

Outro grande desafio para Paulo Freire foi cursar os Estudos Secundários no Recife. Depois de muitas dificuldades e longas peregrinações, dona Trudinha conseguiu uma bolsa de estudos em um dos melhores colégios de Recife à época: o Colégio Oswaldo Cruz, onde concluiu os estudos secundários. Nesse momento, a história de Paulo Freire vai-se redesenhando e ampliando sua visão de mundo e de si mesmo Como estudante, auxiliar de disciplina e professor de Língua Portuguesa no Colégio Oswaldo Cruz além de ingresso na Faculdade de Direito do Recife, deu início aos  primeiros passos de sua caminhada profissional. 

O período de 1960 a 1963 foi marcante na vida do Jovem Paulo Freire. Lembrando aqui que aos 23 anos (1944), ele já era casado com a professora Elza Maia Costa Oliveira. Eles tiveram cinco filhos: três filhas e dois filhos. Na visão de seu filho Lutgardes Costa Freire, a família sempre foi essencial na sua vida. Ela era um espaço de diálogo e decisões coletivas, respeitando-se as singularidades.

Nesse período, Paulo Freire teve intensa participação em vários movimentos sociais com vistas à emancipação política do povo nordestino, articulando educação e cultura popular. Em maio de 1960, tornou-se um dos intelectuais orgânicos com importante participação na constituição e nas atividades do MCP – Movimento de Cultura Popular, em Recife – PE. A criação dos Círculos de Cultura e os Centros de Cultura do movimento foram ações realizadas quando participou da criação e assumiu a direção do Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife – SEC (1962).  As experiências educacionais vivenciadas nesses coletivos, em especial a dos Círculos de Cultura, possibilitaram a construção de Projetos de Alfabetização de Adultos, a exemplo de Angicos, no Rio Grande do Norte. 

Paulo Freire em vida, e através do registro em suas obras, reconhece as contribuições da professora alfabetizadora com larga experiência na área, Elza Freire, sua esposa. Ela foi sua colaboradora no projeto de emancipação popular: a alfabetização política. Seu trabalho com o universo vocabular das crianças e leitura de mundo e com o método de palavração lançava as primeiras sementes do Método de Alfabetização de Adultos.

A experiência de Angicos, pela sua Pedagogia coletiva, inovadora e emancipadora, teve grande repercussão política e alcançou outras regiões do Brasil, sendo conhecida no mundo. As primeiras ações/aulas mais sistemáticas aconteceram entre 24 de janeiro e 2 de abril de 1963 no qual a sua quadragésima aula foi presenciada  pelo presidente João Goulart, A proposta de alfabetização política, em ação, abrangia três movimentos coletivos, que envolveram o trabalho de acadêmicos, professores, monitores, entre outros: investigação do universo vocabular, tematização e problematização. Esta última envolvia a imersão na realidade, compreensão crítica e emersão com tomada de decisão e construção de propostas de intervenção. Os 300 adultos alfabetizados em 40 horas, coparticiparam de um projeto de emancipação popular e podiam ocupar seu lugar de cidadania pelo voto e ter ingerência nas decisões dos rumos do Brasil. Em meados de 1963, Paulo Freire foi convidado pelo Governo de João Goulart a coordenar a Campanha Nacional de Alfabetização de adultos, abortada posteriormente pelo golpe militar no país, em 31 de março de 1964.

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Na foto à esquerda, o retorno de Paulo Freire após 10 anos no exílio. E à direita, como secretário de Educação do Governo Luiza Erundina em São Paulo, ao lado da prefeita e do antropólogo Darci Ribeiro. Reproduções da internet

A prisão, o Exílio e o retorno ao Brasil.

 

Paulo Freire foi considerado à época da ditadura militar inimigo do Brasil. Após 72 dias na prisão, ao sair, sofreu graves ameaças a si e a sua família. Foi aconselhado a se exilar na Bolívia. Por motivos de golpe nesse país foi para o Chile. Ali, trabalhou em Projetos de Educação popular e produziu uma vasta literatura, articulando suas experiências no Brasil e no exílio. Uma de suas obras teve repercussão internacional, o livro Pedagogia do Oprimido, cujos manuscritos datam de 1968.

Como a repressão também atingia o Chile, Paulo Freire se mudou para os Estados Unidos a convite da Universidade de Harvard; depois, foi para Genebra, na Suíça, integrando o Conselho Mundial de Igrejas. De Genebra, seus passos percorreram trilhas em diferentes países que ousaram conquistar a liberdade. Participou de processos revolucionários e assessorou a construção de Projetos de Educação como prática de liberdade, a exemplo de Guiné Bissau e Cabo Verde, na África; transformou-se assim em “Cidadão do Mundo”, “Andarilho da Esperança”. A sua opção ética pelos “oprimidos e condenados da terra” está presente em sua vida e obra e torna singular o legado freireano. 

O Exílio foi um período muito doloroso para Paulo Freire e sua família, mas possibilitou também um renascimento cotidiano, molhado de resistência, amorosidade, memórias afetivas movedoras de vida e de um desejo imenso de voltar e transformar o Brasil em uma democracia radical, junto aos companheiros e às companheiras de luta. A conjuntura política nos finais da década de 1970 anunciava a possibilidade de retorno ao país natal, após quase 18 anos de exílio. Porém, a sua cidadania brasileira só lhe foi oficialmente restituída em 24 de setembro de 1980. Ao regressar , declarou: “preciso reaprender a conhecer o Brasil”, como destacou certa vez o seu filho Lutgardes Freire.

No Brasil, de 1980 a 1997, enfrentou situações paradoxais: o desejo de colocar em prática os projetos tecidos e/ou experienciados no exílio e a dilacerante dor do luto – sua esposa, companheira de lutas e verdadeiro amor de sua vida, a mulher determinada e amorosa Elza faleceu em 24 de outubro de 1986. Foram dois anos muito difíceis na vida do homem e educador Paulo Freire.

Mas a vida segue o seu rumo e, para quem tem ideais fortes, o “mesmo” sofrimento que debilita pode fortalecer o ser humano Foi assim que Paulo Freire, com o companheirismo e amor de Ana Maria de Araújo, sua futura esposa (núpcias em 27 de março de 1988), apoio de sua família, companheiros (as) de trabalho e sonhos, se revigora e impulsionado pela esperança retoma as rédeas da sua visceral coragem em defesa da sua vida e de muitos(as) brasileiros(as).

Nesse período, ele lecionou na Universidade de Campinas, integrou como docente o Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo  Em 1989 e 1991, foi Secretário Municipal de Educação da cidade de São Paulo e, ao longo de muitas trilhas percorridas, construiu um legado biobibliográfico a ser comemorado no seu centenário; este, com certeza, continuará educando vidas geradoras de vida. Paulo Freire com apenas um olhar, um gesto com as mãos, poucas palavras e sua autenticidade e singularidade tocava vidas. Por essa razão, ele reafirma que um simples gesto de um/a professor(a) pode transformar a vida de um(a) estudante, colaborando com a sua formação plena.

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Centro de Formação Paulo Freire do MST/PE, em Caruaru. Reprodução da internet. Arquivo MST/PE

A presença e o legado de Paulo Freire: caminhos para a liberdade

 

A produção escrita de Paulo Freire, além de vasta, tem a capacidade de abrir o diálogo com diferentes culturas e diversidade dos povos. Sua vida e obra são inseparáveis. Entre várias publicadas no Brasil, destacamos algumas: Educação e Atualidade Brasileira; Educação como Prática de Liberdade; Pedagogia do Oprimido; Ação Cultural para a liberdade e outros escritos; Cartas à Cristina; Cartas à Guiné Bissau; Educação e Mudança; Pedagogia da Esperança: uma releitura da Pedagogia do Oprimido; Política e Educação; Pedagogia da Autonomia; Pedagogia da Indignação. O conjunto da obra de Paulo Freire traz produções de sua autoria e obras que se constituíram com e em diálogo com vários/as autores/as. Isso abriu inúmeras trilhas de releituras, interpretações, críticas e atualidade do pensamento de Freire, gerando inúmeros outros trabalhos nacionais e internacionalmente, intensificando pesquisas teóricas e de campo na área da educação, entre outras.

O legado de Paulo Freire em vida se prolonga para além de sua morte física, que ocorreu em 2 de maio de 1997, pois ele continua vivendo entre nós, iluminando caminhos, em nome da vida digna, do diálogo amoroso e crítico entre homens e mulheres, da justiça, da democracia, da liberdade.

Dialogar é ato de liberdade. Liberdade é movimento em defesa da vida de sujeitos humanos e não humanos, da natureza, da mãe Terra; Liberdade é práxis; é olhar o ser humano como irmão em sua singularidade, como igual; é respeitar, jamais discriminar. Liberdade é compreender as contradições sociais, os condicionamentos e se reconhecer como sujeito no e do mundo em relação com as outras pessoas e, por isso mesmo, factível à transgressão ética. Liberdade é opção, é saber de que lado eu vou ficar para resistir, intervir, lutar e defender uma sociedade substantivamente democrática. Liberdade é jamais permitir a fome, desonra, discriminação seja lá de qual tipo for, pois, enquanto houver alguém infeliz, sofrendo por tentativa de extermínio da sua identidade de sujeito humano, não haverá condições de paz. Liberdade é ser capaz de amar e receber amor, através do diálogo crítico, aberto, franco e generoso. Liberdade é exercer a humildade de sonhar e de reconhecer o sonho do outro como algo tão importante como o seu; é sonhar junto, e, este sonho ganha status de utopia porque passa a pertencer a todos(as). 

PARA SABER MAIS

 

Além dos livros citados ao longo deste artigo, sobretudo os de Paulo Freire, igualmente aqui referenciados, sugerimos a leitura desses abaixo relacionados para as pessoas que desejarem conhecer mais a respeito da sua vida e obra: 

 

FREIRE, Paulo e HORTON, Myles. O Caminho se faz Caminhando: conversas sobre educação e mudança social. 5 ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 2002.

 

FREIRE, Ana Maria de Araújo Freire. Paulo Freire: uma história de vida. Indaiatuba/SP: Villa das Letras, 2006

 

SOUZA, Maria Inez (org). Paulo Freire: vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2001. 

 

GADOTTI, Moacir.  Paulo Freire: uma biobibliografia. São Paulo: Cortez e Instituto Paulo Freire, 1996.

 

SOUZA, Ana Inez (org.). Paulo Freire: vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2006.

OS AUTORES

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Targelia de Souza Albuquerque é doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e integra a Cátedra Paulo Freire da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), da qual é professora aposentada. É sócia-formadora do Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas. Atualmente, exerce a docência na Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho) e coordena o Projeto Passos para Autonomia: Encontros do Yoga Integral com a Pedagogia Paulo Freire voltado para idosos e meninas em restrição e privação de liberdade. É autora de diversos textos e publicações sobre a vida, o pensamento e a obra de Paulo Freire.

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Túlio Velho Barreto é graduado em Ciências Sociais e mestre em Ciência Política, ambos pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É pesquisador e docente do Mestrado Profissional em Rede Nacional de Sociologia (ProfSocio), da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), onde atua desde 1984. Foi Coordenador Geral de Estudos Sociais e Culturais da Fundaj entre 2012 e 2014. Recentemente, participou da obra coletiva Pernambuco na Mira do Golpe, com o capítulo “O que ‘1964’ nos ensina sobre os dias atuais: “impeachments”, sequestros, torturas e mortes em tempos de ditadura”. 

COMO CITAR ESSE TEXTO

ALBUQUERQUE, Targelia de Souza; BARRETO, Túlio Velho. Paulo Freire, 100 anos. Uma história de vida em defesa da vida (Artigo). In: Coletiva - Política e Cidadania. nº 19. Publicado em 17 set 2021. Disponível em https://www.coletiva.org/politica-e-cidadania-n19-paulo-freire-100-anos. ISSN 2179-1287.

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