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Imagem: 

Ana Carolina Brambilla Costa

Educação e 

Diferenças e...

Editores Temáticos: Alik Wunder e Antonio Carlos Rodrigues de Amorim

n º 6 |  10 de abril de 2019

COM-FABULAÇÕES: movimentos do pensamento entre imagens, escolas e africanidades                                                                                                                             

Ana Carolina Brambilla Costa

Este texto reverbera os movimentos de uma pesquisa de mestrado[1], concluída em 2018. Nesses movimentos, dançam o corpo, as imagens e os pensamentos nas vagas dos encontros. Encontros com escolas municipais da cidade de Descalvado-SP; com espaços de criação coletiva dentro e fora da escola; com os adensamentos de imagens de africanidades que perpassam os pensamentos escolares nas questões raciais; com as forças de vida dos trabalhos artísticos de Ayrson Heráclito, Moisés Patrício e Rosana Paulino.

As imagens artísticas que carregam africanidades apresentam-se para encontros: desassossegam os corpos de professora e estudantes, movem desejos e proliferam novos pensamentos no espaço das escolas. Qual a potência dessa escolha para uma educação COM africanidades? Quando as imagens artísticas deixam de ser objetos a serem entendidos e destrinchados – pacotes de informações – e passam a ser mobilizadoras de novas imagens, novos pensamentos, que movimentos podem estourar nas escolas?

As imagens escolhidas carregam narrativas, estórias, memórias e provocações que se adensam, adensam, adensam diante do corpo por elas permeado. Arrastam corpos negros brasileiros para uma moldura de ângulos retos. São perigosas: criações poéticas e políticas  que não aceitam os espaços reservados – a duras penas, a duras lutas - dentro do cotidiano escolar para a discussão racial. Exigem outros espaços, desejam outros movimentos.

São movimentos con-fabulatórios, como propõe a filósofa e doutora em Educação Renata Aspis: fabulações com a intercessão de alguéns e intercessões nas fabulações de outrens.

Fabular é movimento que aparece e se indispensa nesse percurso de pesquisa-imagem-escrita, porque anseia o corpo no balanço do “entre”, da iminência e da imprevisibilidade dos arranjos. Não se cumpre uma criação possível, perambula-se atrás do que ainda é porvir; nem real nem ficção porque essas categorias já não bastam, já não se opõem, antes se amalgamam.

 Aqui, nesse texto, ecoam os encontros entre imagens, escolas e estudantes, realizados em oficinas de criação. Ecoam movimentos do pensar, do sentir e do criar desenrolados ao longo do percurso de pesquisa. Menos interessados em narrar o que foi vivido, e mais instigados por continuarem a reverberar – em novos encontros – as potências de vida que arrastam.

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        Silêncio forçado em sutura indisciplinada. Visão lacrada   lacerada

Cadê voz na garganta?

Só vai e vem de linha preta.

Violenta, grossa em camadas texturizadas

Imagens trans-FERIDAS

   Selfies, oferendas, costuras

A imagem ri: sobre o tapete plástico preto,

um saco vazio de açúcar, Colonial. Colonial!!!! A

mão sustenta grãos brancos que parecem escapar

entre os dedos. Quão materiais podem ser as

memórias da sociedade escravista no século XXI?

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nas superfícies das peles de imagens

texturas de peles de comer, em contraste, em multidão

rastros restos riscos nas cabeças enterradas

alimento-cabeça no invisível visível do ori

                                                               orixás

Imagens fotográficas de Moisés Patrício, Rosana Paulino e Ayrson Heráclito[2]. Fotografia que é material mesmo da arte (no caso de Moisés), mas que também é captura de outros materiais – como os bastidores de Rosana e as performances-rituais de Ayrson; nesses casos, fotografias-fantasmas de outras sensações propostas e que cambiam entre o registro de uma obra e uma criação afetada pelas forças dos trabalhos fotografados.

São imagens que dizem das (im)possibilidades de existências desses corpos negros - identidades marcadas - nos fluxos de relações com o urbano, os objetos, os símbolos, as memórias, os racismos cotidianos, as forças in-visíveis dos orixás...

Nas escolhas estéticas dos artistas, os corpos-imagens movimentam as próprias marcações identitárias, abrindo terrenos para atravessamentos singulares da imagem como superfície. Mais que representação das experiências desses sujeitos na realidade brasileira e mais que ilustração da matriz africana presente no país,  essas imagens atuam como captura de forças invisíveis tornadas visíveis nos enquadramentos, cores, materiais, como instiga o filósofo Gilles Deleuze. Imagens em porosidade com as coisas que as cercam e não imagens que se fecham, oferecendo um dado representado; imagens como coisa, no sentido elaborado pelo antropólogo britânico Tim Ingold: composta por fluxos de linhas que se cruzam com outros fluxos,  que vazam para além da presença de um observador humano. Esse conceito move o pensar: que trocas potentes podem haver entre imagens e coisas escolares? Imagens-em-bebedouros, lousas-nas-imagens?. Imagens que desejam. Desejo: ser arrebatada por suas forças, seguir em suas vagas, inventar COM. Resistir aos murais explicativos que paralisam seus fluxos: insistir em sentir a pulsação poderosa da vida das imagens-coisas.

Movimentos confabulatórios : delitos de cortes, dobras e fotografias com imagens e escritas e escolas[3]

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As cordas são linhas  curvas  enoveladas que amarram a mão.  Amarram a boca.  Amarram os olhos. Amarram o corpo dentro da sala. Amarram o braço que segura a câmera. Amarram as perguntas. Amarram o movimento do pensar. São fios de que múltiplas espécies?, que se colocam sobre – ou os colocamos sobre. Mesmo que não tenham um nó sequer,               amarram. Engraçado que são os fios que também explodem nos  empurrando em direções inesperadas.

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Imagens-coisas vivas

querem perambular 

 

não se aguentam paradas na sala dos professores

 

nem trancadas no mural de vidro

 

desejam os barrancos, as ladeiras, o mato

querem bebedouro, banco, banheiro

vão abrindo o portão e saindo

depois voltam fazendo barulho

e rindo da inspetora que pede silêncio

Riem mais e mais e mais e...

Imagens vivas que dão a pensar nos modos de [r]existência das obras perpassadas por africanidades e racismos nas escolas. Mobilizam desejos de fazê-las existir mais, despindo as conformações de representação, significação e ilustração que lhes são conferidas. Deixá-las criar ruídos, que incomodam, ressoam e transitam entre modos de existir. Descobrir a vida que pulsa nesses materiais e seguir em frente com seus fluxos.

NOTAS 

[1] Sob orientação da Prfa. Dra. Alik Wunder, Faculdade de Educação, Unicamp. Disponível em: <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/333145>.

[2] Os trabalhos utilizados são disparadores de criação. Para mais informações sobre os artistas, biografias e obras, acessar informações disponíveis na dissertação.

[3] Imagens e textos criados em oficinas com estudantes a partir das imagens impressas dos artistas escolhidos.

PARA SABER MAIS

ASPIS, R. Resistência e confabulações. In: AMORIM, A. C.; MARQUES, D.; OLIVEIRA DIAS, S. Conexões: Deleuze e Vida e Fabulação e… Petrópolis/RJ; Brasília/DF; Campinas/SP: De Petrus; CNPq; ALB, 2011, p. 63-72.

 

DELEUZE, G. Francis Bacon: lógica da sensação. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.


INGOLD, T. Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo de materiais. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 18, n. 37, p. 25-44, jan./jun. 2012.

A AUTORA

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Ana Carolina Brambilla Costa é licenciada em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas, com Mestrado em Educação pela mesma universidade. É professora da rede pública municipal de São Carlos-SP e transita entre as artes visuais e o teatro, mobilizada por educação, imagens e experimentação.

COMO CITAR ESSE TEXTO

COSTA, Ana Carolina Brambilla. Com-fabulações: movimentos do pensamento entre imagens, escolas e africanidades. (Artigo) In: Coletiva - Educação e Diferenças e... nº 6. Publicado em 10 de abril de 2019. Disponível em https://www.coletiva.org/educacao-e-diferencas-e-n6-com-fabulacoes-por-ana-carolina-cost. ISSN 2179-1287.

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